segunda-feira, 22 de setembro de 2008



LÁGRIMAS


Contam as lendas que, quando o Criador concluiu a sua obra,
dividiu-a em departamentos e os confiou aos cuidados dos Anjos.
Após algum tempo, o Todo Poderoso resolveu fazer uma avaliação
da sua criação e convocou os servidores para uma reunião.


O primeiro a falar foi o Anjo das luzes.
Postou-se respeitosamente diante do Criador e lhe falou com entusiasmo:


“Senhor, todas as claridades que criastes para a Terra
continuam refletindo as bênçãos da sua misericórdia.
O Sol ilumina os dias terrenos com os resplendores divinos,
vitalizando todas as coisas da natureza e repartindo
com elas o seu calor e a sua energia.”


Deus abençoou o Anjo das luzes,
concedendo-lhe a faculdade de multiplicá-las na face do mundo.

Depois foi a vez do Anjo da terra e das águas, que exclamou com alegria:

“Senhor, sobre o mundo que criastes,
a terra continua alimentando fartamente todas as criaturas;
todos os reinos da natureza retiram dela
os tesouros sagrados da vida.
E as águas, que parecem constituir o sangue bendito
da sua obra terrena, circulam no seio imenso, cantando as suas glórias.”


O Criador agradeceu as palavras do servidor fiel, abençoando-lhe os trabalhos.

Em seguida, falou radiante, o Anjo das árvores e das flores.

“Senhor, a missão que concedestes aos vegetais da Terra
vem sendo cumprida com sublime dedicação.
As árvores oferecem sua sombra, seus frutos e utilidades
a todas as criaturas, como braços misericordiosos do vosso amor paternal,
estendidos sobre o solo do planeta.”


Logo após falou o Anjo dos animais, apresentando a Deus seu relato sincero.

“Os animais terrestres, Senhor, sabem respeitar as suas leis e acatar a sua vontade.
Todos têm a sua missão a cumprir, e alguns se colocam
ao lado do homem, para ajudá-lo.
As aves enfeitam os ares e alegram a todos
com suas melodias admiráveis, louvando a sabedoria do seu Criador.”


Deus, jubiloso, abençoou seu mensageiro,
derramando-lhe vibrações de agradecimento.


Foi quando, então, chegou a vez do Anjo dos homens.
Angustiado e cabisbaixo, provocando a admiração dos demais,
exclamou com tristeza:


“Senhor, ai de mim! Enquanto meus companheiros falam
da grandeza com que são executados seus decretos na face da Terra,
não posso afirmar o mesmo dos homens...
Os seres humanos se perdem num labirinto
formado por eles mesmos.
Dentro do seu livre-arbítrio criam todos os motivos de infelicidade.
Inventaram a chamada propriedade sobre os bens
que Lhe pertencem inteiramente,
e dão curso ao egoísmo e a ambição
pelo domínio e pela posse.
Esqueceram-se totalmente do seu Criador e vivem se digladiando.”


Deus, percebendo que o Anjo não conseguia mais falar
porque sua voz estava embargada pelas lágrimas, falou docemente:

“Essa situação será remediada.”


Alçou as mãos generosas e fez nascer, ali mesmo no céu,
um curso de águas cristalinas e, enchendo um cântaro
com essas pérolas líquidas, entregou-o ao servidor, dizendo:


“Volta à Terra e derrama no coração de meus filhos
este líquido celeste a que chamarás água das lágrimas...
Seu gosto é amargo, mas tem a propriedade de fazer
que os homens me recordem, lembrando-se da minha misericórdia paternal.
Se eles sofrem e se desesperam pela posse passageira das coisas da Terra,
é porque me esqueceram, esquecendo sua origem divina.”


... E desde esse dia o Anjo dos homens
derrama na alma atormentada e aflita da humanidade,
a água bendita das lágrimas remissoras.


A lenda encerra uma grande verdade:
cada criatura humana, no momento dos seus prantos e amarguras,
recorda, instintivamente, a paternidade de Deus
e as alvoradas divinas da vida espiritual.





Fonte:

Livro “Crônicas de além túmulo”
(Cap, 22 - Lenda das Lágrimas)
Pelo Espírito de Humberto de Campos
Psicografado por Francisco Cândido Xavier



Texto amorosamente enviado pela nossa querida irmã Valéria.
Agradecemos profundamente, por sua doce contribuição para o
andamento de nosso blog.

Um grande e fraterno abraço!